Fórmulas infantis, a segunda via.

As fórmulas infantis industrializadas são leites modificados com o objetivo de atender às necessidades nutricionais específicas da criança no primeiro ano de vida, visando diminuir o impacto sobre a saúde das crianças privadas do leite materno. No entanto, por não ser um alimento sob medida para o bebê, como é o caso do leite materno, a fórmula infantil deixa de apresentar vários de seus benefícios, dentre eles as propriedades imunológicas. Tendo por base a composição do leite materno, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu dois padrões de fórmulas para o primeiro ano de vida: as fórmulas destinadas às crianças com até 6 meses de vida e as fórmulas destinadas às crianças com idade entre 7 e 12 meses.
Principais modificações feitas nas fórmulas infantis:
Alteração no padrão de gordura
O leite de vaca, matéria-prima das fórmula infantis, é rico em gordura do tipo saturada. Nessas fórmulas, a gordura é parcialmente substituída pela poliinsaturada de origem vegetal, mais adequada para o desenvolvimento da criança.
Alteração do teor e da qualidade das proteínas
O leite de vaca contém uma maior concentração de proteínas, mas são mais difíceis de ser digeridas por bebês. As fórmulas infantis reduzem o teor de proteína e modificam sua estrutura para melhorar a digestão. Com essa providência reduz-se o risco de aparecimento de alergia à proteína do leite de vaca.
Adição de soro de leite
As fórmulas infantis recebem uma quantidade extra de soro para tornar sua composição mais adequada às condições fisiológicas do bebê.
Redução da concentração de minerais
O leite de vaca é mais rico em minerais, que são parcialmente extraídos para não sobrecarregar os rins do bebe
Adição de nutrientes
O leite de vaca recebe a adição de taurina, ferro, vitaminas, carboidratos (sacarose, dextrino-maltose e amido), que o torna mais adequado ao bebê. Existem no mercado, ainda, fórmulas à base de soja, fórmulas sem lactose e fórmulas hidrolisadas que podem ser prescritas por um pediatra ou nutricionista em casos, como intolerância à lactose e para bebês que, ao usarem fórmulas infantis à base de leite de vaca, passam a ter cólicas intestinais.
Possíveis problemas causados pela ingestão do leite de vaca.
Risco aumentado de alergia
O trato gastrointestinal do recém nascido é bastante imaturo. A permeabilidade intestinal contribui para a alergia à proteína do leite de vaca, uma condição que afeta 0,4% a 7,5% das crianças . Tudo indica que os principais alérgenos em potencial sejam a beta-lactoalbumina, ausente no leite humano, a caseína, a alfa-lactoalbumina e a albumina sérica bovina. Além disto a exposição precoce da criança ao leite de vaca aumenta o risco não somente de reações adversas a este leite, como também de alergia a outros alimentos.
Sobrecarga renal
Estudos demonstraram que lactentes que recebem o leite de vaca podem apresentar hipernatremia, devido ao aumento da carga metabólica imposta pela elevada concentração de solutos (sódio, potássio, cloro e proteína) sobre a função renal ainda imatura. O consumo de sódio com a ingestão de leite de vaca, pode chegar a mais de 500mg/dia, ultrapassando, muitas vezes, a ingestão recomendada que é de 120mg/dia, para crianças de zero a seis meses, e de 200mg/dia para crianças de seis a doze meses. Em estado febril ou patologia renal, a vulnerabilidade à desidratação é muito maior.
Aminoacidemia
A capacidade de metabolização de tirosina, fenilalanina e metionina é muito limitada e as concentrações desses aminoácidos no leite de vaca são três a quatro vezes mais altas do que no leite materno, tornando aumentado o risco de aminoacidemia, o que por sua vez pode comprometer o sistema nervoso central, principalmente em prematuros.
Deficiências de ácidos graxos essenciais
O leite de vaca apresenta baixo teor de ácido graxo linoléico, nutriente que não pode ser sintetizado pelo organismo e que é importante para a manutenção das estruturas celulares e para as funções normais dos tecidos. As manifestações de deficiência do ácido linoléico incluem retardo no crescimento, lesões na pele, aumento na fragilidade e permeabilidade das membranas, além de comprometimento neurológico, dentre outras (Uauy et al., 1992).
Outras deficiência
Existe ainda o risco de deficiência de cobre, zinco e vitaminas C, E , A, ácido fólico e niacina.
Infecções gastrointestinais
O leite de vaca está relacionado a alguns problemas devido à inadequação de sua composição em relação às necessidades nutricionais e à tolerância digestiva, metabólica e excretora da criança. A prevalência de anemia por deficiência de ferro é mais elevada entre crianças alimentadas com leite de vaca, além do baixo teor, o ferro não é bem absorvido pelo organismo do lactente, devido ao conteúdo elevado de proteína, cálcio e fósforo e baixos níveis de vitamina C, fatores que comprometem sua biodisponibilidade e também a do ferro de outros alimentos consumidos simultaneamente. Outro agravante que contribui para aumentar o risco de deficiência de ferro e anemia no primeiro ano de vida é o fato de que o consumo de leite de vaca está associado a perdas de sangue oculto pelas fezes. Desde o início da década de 60, essa micro hemorragia intestinal causada pelo leite de vaca já era conhecida, só que se acreditava que ela fosse significativa apenas na faixa etária de zero a quatro meses de idade. Estudo mais recente realizado por Zielger et al.(1990), comparando a perda de sangue nas fezes após os seis meses de idade, em função do tipo de alimentação, demonstrou que ela aumentava 30% quando a criança era alimentada com leite de vaca, o que não ocorria com o grupo que utilizava fórmulas industrializadas. Com base nesses estudos, a Academia Americana de Pediatria, que já não indicava o uso do leite de vaca para crianças de zero a seis meses, passou também a não recomendá-lo para lactentes até 12 meses, por considerarem que a perda de ferro decorrente da eliminação de sangue pelas fezes ainda é nutricionalmente importante nessa faixa etária. (AAP, 1992; Fomon, 1993)
Fonte: Nutrição do lactente, base científica para uma alimentação adequada. Marilene Pinheiro Euclydes 2ªed.
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