Amamentando Isabella


Luciana e Isabella Prass Rolsen



A minha filha estava prevista para Junho de 2006, mas os meus problemas com amamentação começaram antes… eu moro nos Estados Unidos, e aqui pode ser o melhor país do mundo se você quer amamentar (pois tem de TUDO em termos de bombas, conchas, cremes, La Leche League, etc.), e o melhor se não quiser amamentar (aqui ninguém te julga se não quiser). Mas as diferenças culturais são muito grandes – eu, brasileira, achava que era óbvio amamentar (ou ao menos tentar), já o meu marido fez uma cara de espanto quando eu disse, já beeem grávida, que óbvio que eu iria amamentar.

Ele era contra mesmo – achava uma coisa inútil, que só ia dar trabalho… e ele não foi amamentado (mãe dele tomou injeção para secar o leite no hospital!) e estava aí, saudável. Junte-se a isso a minha irmã dizendo que eu tinha que comprar uma mamadeira “para emergências”, e a minha cunhada me dando de presente de chá-de-bebê um pote de plástico com divisórias para colocar a fórmula em pó. Minha reação foi ir atrás de informação (e apoio!) sobre amamentação na internet e no curso dado pelo hospital onde nasceria minha filha – a consultora de amamentação foi fantástica, e eu fiquei com o número dela para quando precisasse. Nesse caminho, encontrei a tia do meu marido, mãe de 4 filhas amamentadas no peito, que me vendeu a bomba tira-leite elétrica dela por um preço camarada. Agora era comigo.

Isabella nasceu de parto normal e eu tentei amamentá-la logo em seguida e ela meio que não quis... espertinha que eu sou, levei para o hospital um pedaço de papel com o seguinte texto impresso no computador, para não gerar dúvidas: “Eu sou um bebê amamentado exclusivamente no peito. Não me dê complemento ou chupeta sem o expresso consentimento da minha mãe. Por favor, me leve a ela sempre que eu chorar”. No meu quarto eu também escrevi no quadro de avisos que eu era uma mãe que amamentava e desejava minha filha comigo sempre que ela quisesse – dia ou noite. E assim foi… tive algumas dificuldades, um pouco de dor, mas nada muito sério – o hospital forneceu a pomada Lansinoh, que é milagrosa, e enfermeiras especialistas em amamentação 24h, era só ligar e uma delas aparecia.

Em casa, tudo foi muito fácil… qualquer dúvida eu ligava para a consultora do hospital, e fui abeçoada com uma filha que mamava bem, seios que não racharam, e nada de dor – apenas comentários imbecis da família do meu marido (a minha cunhada, que não tem filhos!, me disse que a minha tristeza materna – em inglês, baby blues – só iria passar quando eu desmamasse… a Isabella tinha 1 semana de vida!!!). Mas como quem cuidava da minha filha era eu, que não trabalho, eu sabia que eles poderiam falar o que quisessem, que a amamentação era escolha minha, e só dependia de mim para dar certo. O raio de sol foi meu sogro, que por pura sorte leu um artigo sobre amamentação e se encantou… ele não sabia nada sobre o assunto, achava que fórmula e peito “dava na mesma”. Não apenas me apoiou, comprou de surpresa uma cadeira de balanço maravilhosa para eu amamentar!


Isabella não ganhou peso depois de 2 semanas de vida, mas a pediatra, que sempre me apoiou na amamentação, disse que a leve icterícia dela havia sido o motivo, já que ela dormia muito e assim não mamava com tanta frequência – mesmo eu a acordando de 3/3h. A pediatra disse para insistir, e que se com 1 mês a coisa não mudasse a gente conversaria de novo… e com 1 mês ela engordou, e a pediatra se tornou minha maior aliada.

Com 2 semanas eu comecei a tirar leite com a bomba (não antes por indicação da consultora de amamentação – ela disse que as primeiras 2 semanas são críticas para a produção de leite, e que não era bom estimular mais do que o bebê mamava), e meu marido dava meu leite na mamadeira 2 vezes por semana, só para ela acostumar – eu sei que isso é polêmico, mas funcionou conosco… ela se acostumou com a mamadeira mas nunca largou o peito – e eram apenas 2 vezes por semana MESMO. Ter feito isso nos ajudou muito quando, com 4 semanas pós-parto, eu tive uma violenta crise de dor que eu não sabia de onde estava vindo, e fui parar no pronto socorro. Minha cunhada deu meu leite na mamadeira enquanto eu fiquei no hospital…
O diagnóstico: pedra na vesícula. Por causa da medicação que eu tomei via intravenosa, a médica disse que eu não poderia amamentar por 24h – e aí a minha princesa teve que tomar fórmula pela primeira vez, porque eu não tinha leite suficiente estocado. Aí também veio o apoio do meu marido à amamentação – depois de ver que fórmula custava $25 por lata. Tirei leite com a bomba todas as vezes que a minha filha tomou mamadeira nessas 24h.


2 semanas depois disso fiz a cirurgia para a retirada da vesícula… dessa vez, deixei MUITO leite estocado para ela não tocar em fórmula de novo – o investimento na bomba elétrica valeu muito a pena nessa hora. Fui para casa no mesmo dia, mas por causa da dor no local das incisões (por laparoscopia), eu não conseguia segurá-la para amamentar, e ela ficou 1 semana inteira na mamadeira, com leite meu – eu fui extremamente cuidadosa, e bombeava toda vez que ela mamava, dia ou noite, e a minha produção se manteve. Depois dessa semana, voltamos ao peito, e foi um pouco difícil –ela estava acostumando com a mamadeira, mas conseguimos voltar depois de alguns dias de adaptação. E não dei mais mamadeira por mais de 1 mês.

Depois disso… nada mais me abalaria! Manter a amamentação depois de uma situação assim foi o empurrãozinho que faltava para eu me empoderar de vez – ninguém mais me abalaria com comentários idiotas.

Isabella mamou LM exclusivo até 7 meses e meio – com TOTAL apoio da pediatra. Fomos ao Brasil quando ela tinha 7 meses, e eu não queria ter que iniciar o esquema de papinhas, colherinhas, horários tendo que viajar tantas horas no avião. Assim, ficou só no LM, mas deu algumas beliscadas no Brasil… minha mãe deu mamão para ela algumas vezes, mas foi só!


Ao voltar para os EUA, Isabella com quase 8 meses, comecei a introdução de sólidos… bem devagar… com a frase da pediatra sempre em mente: “até 1 ano, alimentação é COMPLEMENTO do peito, os nutrientes e calorias que ela precisa vêm do leite materno”. Ela sempre aceitou bem os alimentos… com 8 meses e meio veio o almoço e as papinhas salgadas, com quase 10 meses o jantar. E mamando bastante!

Amamentei até 14 meses da minha princesa… achei que estava na hora, e ela aceitou a mudança muito bem. Já não mamava de madrugada, e eu substituí o leite materno direto pelo integral, e muitos iogurtes e queijo. Hoje ela tem 16 meses, muito saudável e amada. Num próximo filho, faria tudo de novo… amei a experiência de amamentar!

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