"Uma mulher não amamenta só"
Hoje me dei conta de um fato:
Meus seios foram usados para a função que foram criados durante seis anos.
Não ininterruptamente, porque esse período é a soma do tempo que amamentei meu filho mais velho (hoje com nove anos e meio) e o caçula (hoje com 3 anos e meio).
Dois anos e meio pra um, três anos e meio pro outro.
Sim, o pequeno AINDA mama. Mas por pouco tempo, porque estamos em processo de desmame.
Estamos (mais eu do que ele), mudando a nossa relação. Tirei todas as mamadas permitindo apenas a da manhã, quando ele acorda. E quando chega a esse ponto, estamos em processo de desmame.
Hoje pela manhã após o banho, estava passando hidratante nos meus seios e me dei conta que estruturas tão pequenas (tenho peitinhos) foram tão importantes na minha função de mãe, foram tão importantes para meus filhos, foram tão importantes para mim como mulher e contrariando todos os prognósticos de que eles se tornariam feios, flácidos, murchos e caídos eles ainda são belos e delicados.
E amamentar durante todo esse tempo, foi exercer um poder que eu não imaginava que teria (embora desejasse muito). Que é o poder de fabricar leite.
E não foi fácil. Como acredito que não seja fácil pra ninguém.
Das dificuldades na pega do primeiro filho, a demora para o leite “vir” passando por empedramentos, mastites, dias com produção baixa(ou bebê com apetite grande), noites amamentando bem amiúde, noites com o pequeno pendurado ao seio.
Da segunda vez, não tive nenhuma dificuldade na pega, mas peguei um faminto que feriu meus dois mamilos, engordou um quilo em quinze dias, passava a tarde INTEIRA mamando e aparentava não saciar nunca até o terceiro mês. Era um bebê tranqüilo e feliz, desde que o peito estivesse na sua boca. Foram tardes e tardes e tardes deitada com ele ao seio, de um para o outro. Comendo, bebendo, e indo ao banheiro com meu “piercing”(como apelidou o pai deles)colado ao seio.
Amamentar acompanhou meus dois filhos em muitas fases: Eles sentaram, andaram e falaram enquanto mamavam. Desfraldaram e tiveram toda sua dentição de leite enquanto mamavam (o mais velho desfraldou cedo). Passaram a comer enquanto mamavam. O caçula entrou na escola enquanto ainda mamava.
Mas eu só pude amamentar tanto e por tanto tempo, porque tive apoio, informação, paciência e perseverança.
Lembrando do discurso de mulheres não tiveram êxito pra amamentar reclamando PRESSÃO PRA AMAMENTAR. Percebi que nós que optamos por amamentar em livre demanda, exclusivo por seis meses e por um período prolongado, relatamos com freqüência a pressão pra NÃO AMAMENTAR.
Acredito que essas duas percepções estão corretas porque na verdade, a sociedade tanto cobra que a mulher amamente como que ela NÃO amamente.
Porque nos é vendido a imagem do bebê mamando doce e tranqüilamente ao seio de uma mãe bela descansada e sorridente.
Nos é posto que se deve amamentar mas não se deve perder noites de sono por muito tempo e esse muito tempo para alguns(pediatras, comadres, avós ) é de dois meses.
Que devemos amamentar mas temos que dar mamadeira também pra criança não ficar dependente da mãe.
Que devemos amamentar mas precisamos levantar às seis da manhã pra ir trabalhar e prover o sustento da família ou mantermo-nos no mercado e não perder oportunidades ou ficarmos desatualizadas.
Que devemos amamentar e nosso bebê deve ganhar x gramas por dia durante tantos meses.
Que devemos amamentar mas temos que permanecer sempre impecáveis na aparência, disposição e bom humor para não abalar o casamento.
Enfim, que devemos amamentar desde que isso não interfira muito no status quo da família e dos grupos que a mulher participa.
O apoio à amamentação muitas vezes é dado, apenas dizendo pra mulher que ela DEVE amamentar sem que se oriente, ajude, acolha e atenda às necessidades daquela mulher que passa por um momento (temporário) de maior dedicação à cria.
Momento esse que representa um curto espaço de tempo nos muitos anos de dedicação a criação de um filho.
Sim, amamentar pede dedicação. Sim, amamentar pede empenho.
Mas pede fundamentalmente apoio: Do companheiro, da família, dos profissionais de saúde, dos patrões enfim, da sociedade como um todo.
Socorro Moreira
Obrigada pelo texto e testemunho. Amanentei a Clara, minha filha mais velha, por 11 meses. Estou grávida da Talita (36 semanas) e espero amamentá-la até quando quisermos!! Hoje sei muito mais do que antes e sei da importância desse ato e de tudo que colocastes no texto. Espero ajudar outras mulheres a amamentarem como vc amamentou teus filhos. Obrigada de novo! Um grande abraço,
ResponderExcluirGabi e Talita.
olá, é minha primeira vez comentando por aqui, simplesmente AMEI esse texto e assino embaixo de tudo! Meu filho está com u 1 ano e 3 meses, ainda mama bastante (desmamamos apenas de madrugada), mas a pressão - um pouco velada, é verdade - para desmamar é sempre presente.
ResponderExcluirA Flávia, do blog o Astronauta, lançou uma mini-campanha de apoio a amamentação para veicularmos durante a Semana Mundial de Aleitamento Materno, várias mães blogueiras estão aderindo, e como vcs são uma referêcia blogueira do assunto, achei que seria bacana divulgar aqui! Se quiserem contribuir com dicas sobre amamentação lá no meu bloguinho (aprendiz-de-mae.blogpot.com) vou ficar muito honrada!
beijo, parabéns pelo blog!
Socorro, sua lucidez flui como leite materno. Suas palavras traduzem um dos maiores dilemas da mãe moderna de forma generosa, delicada e direta. Estimulante. Obrigada, Itala, Sofia e Cosmo
ResponderExcluirLindo Relato Socorro. Sempre achei que devíamos relatar muuuito nosso aleitamento, que não é fácil, mas como é prazeroso!!!
ResponderExcluirObrigada por dividir conosco esse aleitamento tão doce e lúcido!
Archangelo mamou até os 20 meses e com Enrico pretendo me vingar do "desmame" do Archangelo amamentando-o por longos anos!
Socorro, vou twittar esse maravilhoso relato no Materna Japão!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar!
Defendo a amamentação, mas espero que os filhos da Socorro não estejam "pendurados em seu seio" (literalmente e emocionalmente falando) quando se ela for os levar até o altar...
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