Copo ao invés de mamadeira.


O uso da mamadeira é pior método de alimentação de lactentes não só por razões de riscos, mas também por gerar distorções no funcionamento da musculatura do rosto da criança e provocar possíveis alterações ortodônticas.

Essa é uma conclusão de pesquisa realizada pela fonoaudióloga Cristiane Faccio Gomes e que foi objeto de sua tese de doutorado no Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Unesp/Botucatu.

A investigação revelou que, na impossibilidade do aleitamento materno, a melhor solução para fornecimento de alimento ao lactente é a utilização do copo. O recomendável – diz a pesquisadora – é sempre o aleitamento exclusivo no peito por 6 meses, continuado até 2 anos ou mais, com o uso do copo sempre que necessário, ou seja, quando a mãe estiver trabalhando ou quando se ausentar por período superior ao da alimentação da criança. Aos seis meses – acrescenta Cristiane - a criança já pode utilizar o copo para ingerir água e sucos, não necessitando, em nenhum circunstância, do uso da mamadeira.

Segundo a fonoaudióloga, o seu trabalho revelou que, além dos benefícios já conhecidos e divulgados mundialmente, tornam-se claras as vantagens do aleitamento materno para o crescimento das estruturas e desenvolvimento das funções do Sistema Estomatognático e que favorecem o crescimento facial, a criação de espaços adequados para a erupção dentária, a respiração nasal, a deglutição adequada e a preparação para as funções de mastigação e fala.

Nesse quadro– diz a pesquisadora – as relações dos métodos de aleitamento com a fonoaudiologia tornam-se óbvias: todo o trabalho realizado naquela fase da vida da criança atua como fator de prevenção a diversos agravos: alterações musculares, dificuldades de fala no que se refere a embaraços na articulação de sons por diminuição do tônus muscular, deglutição atípica, Síndrome do Respirador Bucal e suas conseqüências na aprendizagem, otites de repetição que podem provocar perda auditiva irreversível, e alterações ortodônticas com repercussões na mastigação, fonação, vedamento labial e outras.

As funções musculares.

Na realidade, cerca de vinte músculos atuam durante a ordenha do leite materno. Entretanto, está comprovado, por meio de diversas pesquisas, que os músculos masseter, temporal, digástrico, supra e infra-hióides, pterigoideos laterais e mediais são os mais ativos, exatamente porque são responsáveis pela movimentação da mandíbula (abaixamento, protrusão, elevação e retrusão) estimulando o crescimento facial de maneira adequada. Outros músculos, como é o caso do bucinador atuam, também, porém de forma menos intensa, ao contrário do que ocorre no aleitamento por mamadeira.

No uso da mamadeira, então, e ao contrário do que seria esperado, os masseteres e temporais apresentam atividade diminuída e os bucinadores revelam ações mais intensas. Isso porque o lactente alimentado por mamadeira realiza sucção por pressão negativa, ao contrário do aleitamento materno no qual ocorre a ordenha por pressão positiva em maior escala e, apenas, alguma pressão negativa. Por esse motivo, o lactente, na mamadeira, pode desenvolver basicamente dois tipos de sucção: a sucção que favorece o aumento da atividade dos bucinadores, gerando uma pressão sobre os maxilares e resultando em alterações ortodônticas e palatinas, com possíveis conseqüências respiratórias. Por outro lado, o outro tipo de sucção favorece a atividade aumentada da língua. Por isso algumas crianças que sugam mamadeira apresentam alterações ortodônticas e outras não.

Os riscos e o uso do copo.

A cultura popular dita que a alimentação por copo é mais difícil, favorece mais chances de engasgos e as mães referem medo de oferecer leite por copo. Na realidade, vários autores já demonstraram que o uso da mamadeira é mais arriscado ao bebê por alguns motivos: aumento do furo do bico para que o leite apresente uma saída mais rápida, bem como o fato de muitos bebês mamarem deitados e com as mamadeiras escoradas. O aumento do furo da mamadeira impede que o bebê controle o fluxo de leite e possa parar para descansar ou respirar. As mamadas deitadas são muito perigosas, pois os engasgos e aspirações são mais fáceis de ocorrer, bem como a entrada de leite pela Tuba Auditiva das crianças (que é mais horizontalizada que no adulto), promovendo otites de repetição.

A forma mais segura de alimentar o bebê é o aleitamento materno e o uso do copo como método alternativo e temporário, pois para oferecer leite por copo, o adulto deve estar presente e prestar atenção na alimentação do lactente. Alguns autores já descreveram a técnica para que o bebê possa ingerir o leite e realizar pausas para respirar sem que haja volume de leite sendo derramado em sua cavidade oral. A adoção da técnica correta e a paciência são essenciais para o sucesso desse tipo de alimentação.

Aleitamento materno ainda é pequeno.

Existem dados de pesquisas de prevalência e incidência de aleitamento materno, e sabe-se que ele, apesar de ter aumentado nos últimos anos, ainda é muito baixo (60% no índice de aleitamento materno até seis meses, porém não de forma exclusiva e 13% em aleitamento materno exclusivo até o sexto mês - Brasil, 2002). O que se apurou, ainda, em pesquisas é que o uso de chupeta e mamadeira durante o aleitamento materno promovem o desmame precoce, ou seja, o lactente tende a rejeitar o seio materno ao iniciar a sucção de tais bicos, pois a movimentação muscular muda completamente e os bebês acabam preferindo a mamadeira pela facilidade.

No caso do copo, não há pesquisas com uso de métodos objetivos, pois seu uso é relativamente recente e geralmente utilizado apenas nos hospitais que recebem do Ministério da Saúde, o Certificado de Amigos da Criança, pois nesses hospitais é proibido o uso de chupetas e mamadeiras. Acredito que muitas pesquisas possam ser desenvolvidas nessa área.

A pesquisa.

A investigação realizada pela fonoaudióloga Cristiane Faccio Gomes é inédita no que se refere, principalmente, à análise da participação muscular no aleitamento por copo. Ela teve como orientadora, a professora Ercília Maria Caroni Trezza, docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Unesp/Botucatu. O estudo teve a participação de 60 lactentes, nascidos a termo e sem intercorrências, entre dois e três meses de idade, e que foram divididos em três grupos: 20 com aleitamento materno exclusivo; 20 com aleitamento misto e uso da mamadeira; e 20 com aleitamento exclusivo com uso de copo.

Fonte: Jornal Entrelinhas de Botucatu

Comentários

  1. Que tipo de copo seria, os com bico ou copo "normal", igual aos que a gente bebe?

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  2. Os pequenos - como os de cachaça - são mais indicados, aos poucos os comuns, de casa!

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  3. Não é fácil no inicio o processo de amamentação e quando se vê o bebê com fome é realmente comum pensar-se em usar outras alternativas como o copo.

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