Lactentes precisam de suplementação de ferro?


Frequentemente somos questionadas por mães de crianças amamentadas ao seio (de qualquer idade) sobre a necessidade de suplementação de ferro de rotina (o mesmo se dá com as vitaminas A e D). Para embasar a justificativa da não necessidade para aleitamento exclusivo ao seio até seis meses e complementação com alimentos que forneçam o ferro necessário após esta idade  selecionamos alguns materiais de leitura e um resumo.


Para começar algumas informações nutricionais:
Necessidades diárias de ferro:
Gestantes: 27 mg
Mãe que amamenta: 10 mg
Bebês até 6 meses: 0,27 mg
Bebês entre 7 e 12 meses: 11 mg
Crianças de 1 a 3 anos: 7 mg
Crianças de 4 a 8 anos: 10 mg
Quantidade de ferro presente em 100 ml de leite materno: Colostro - 0,09 mg / Leite de transição: 0,04 mg / Leite maduro: 0,15 mg (Fonte: Adaptado de CALIL et al. (1991)).





- As reservas de ferro da criança que recebe com exclusividade o leite materno, do nascimento aos 6 meses de idade, atendem às necessidades fisiológicas da criança, não necessitando de qualquer forma de complementação nem de introdução de alimentos sólidos2,3. Isso se deve à biodisponibilidade elevada de ferro no leite humano, com cerca de 50% de seu ferro sendo absorvido, o que compensa a sua baixa concentração (0,5-1 mg de ferro/litro). Entretanto, essa biodisponibilidade pode diminuir até 80% quando outros alimentos são ingeridos pelo lactente4. Entre os 4 e 6 meses, ocorre gradualmente o esgotamento das reservas de ferro, e a alimentação passa a ter papel predominante no atendimento às necessidades desse nutriente. É necessário que o consumo de ferro seja adequado à demanda requerida para essa fase etária5. Dessa forma, as práticas alimentares nos primeiros 2 anos de vida são importantes para prevenir a anemia ferropriva, período no qual ocorre alta prevalência dessa deficiência6-9.


- Também se observou que a introdução de cereais, e especialmente vegetais, pode interferir na absorção de ferro do leite materno (17), cuja concentração é normalmente baixa, mas altamente absorvível. Como o balanço de ferro é muito delicado no infante jovem, interferência na sua absorção pode resultar em deficiência e anemia. A deficiência pode ser evitada, é claro, através do uso de preparações de cereais enriquecidos, mas isto preveniria um problema inicialmente inexistente.

- RESULTADOS: Antes da suplementação, os grupos apresentaram similar estado nutricional. Não houve diferença entre os grupos na ingestão diária de nutrientes. Durante o estudo, o ganho de peso, o ganho de comprimento e os incrementos nos índices antropométricos não diferiram estatisticamente entre os grupos suplementados. A ocorrência e duração dos episódios de morbidade não diferiram estatisticamente entre os grupos. De modo geral, observaram-se melhorias nos índices peso/idade e peso/comprimento na população estudada, porém o comprimento/idade não apresentou diferenças antes e após a suplementação. 
CONCLUSÃO: As diferentes doses profiláticas de ferro não exerceram efeito diferenciado sobre o crescimento e estado nutricional dos lactentes não-anêmicos.

- RESULTADOS: A amostra foi composta por 118 crianças e anemia foi encontrada em 41,5%. Não houve associação estatisticamente significativa entre anemia e presença das variáveis: sexo, peso ao nascer, intercorrências neonatais, doenças crônicas, a amamentação ou o uso de suplementação de ferro. Houve uma associação estatisticamente significativa (p = 0,03) entre a presença de anemia e renda per capita, de modo que quanto maior a renda, menor a prevalência de anemia foi. CONCLUSÃO:O programa de profilaxia contra a anemia ferropriva não alcançou os resultados esperados . Novas estratégias devem ser consideradas à luz da magnitude do problema.


- Objetivos. Avaliar a influência de práticas alimentares na incidência de anemia em lactentes a partir do estudo do perfil alimentar das crianças atendidas em um ambulatório de pediatria no Rio de Janeiro, Brasil. 
Métodos. Trata-se de um estudo transversal com 288 lactentes de 12 a 18 meses que compareceram ao ambulatório de janeiro a junho de 1993. As crianças foram avaliadas quanto à presença de anemia ferropriva; além disso, foi realizado um recordatório de 24 horas e um registro de freqüência de consumo de alimentos ricos em ferro junto aos responsáveis pelas crianças. Resultados. Cento e quarenta e quatro crianças apresentavam anemia (hemoglobina < 11 g/dL); destas, 38 apresentavam anemia grave (hemoglobina < 9,5 g/dL). Encontrou-se baixo consumo de ferro biodisponível, consumo de vitamina C dissociado das refeições e baixo consumo de carne. Observou-se associação significativa entre a prevalência de anemia severa e o consumo inadequado de ferro (razão de prevalência = 2,28; intervalo de confiança = 1,12-4,66; P = 0,02). O consumo de ferro biodisponível foi maior no grupo sem anemia (P = 0,04). Conclusões. Os responsáveis pelos lactentes devem ser informados sobre a composição nutricional da alimentação complementar a fim de aumentar a biodisponibilidade de ferro na dieta da criança. A estratégia da Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância pode contribuir neste sentido.

- As reservas fisiológicas de ferro (0,5 g/kg no recém-nascido a termo) são formadas no último trimestre de gestação e, juntamente com ferro proveniente do leite materno, sustentam a demanda do lactente até o sexto mês de vida, sendo assim a prematuridade, pela falta de tempo e o baixo peso ao nascer, pela pequena reserva, associados ao abandono precoce do aleitamento materno exclusivo, são as causas mais comuns que contribuem para a espoliação de ferro no lactente jovem. Na primeira infância o problema agrava-se em decorrência de erros alimentares, principalmente no período de desmame, quando freqüentemente o leite materno é substituído por alimentos pobres em ferro. O leite de vaca é um exemplo, pois apesar de apresentar o mesmo teor em ferro que o leite materno, sua biodisponibilidade é muito baixa e, como se sabe as mães freqüentemente substituem uma refeição pela mamadeira3.
-  A importância do aleitamento materno foi evidente nos primeiros meses de vida;
- Em relação ao tipo de leite consumido, verificou-se que a melhor situação em relação à anemia é a das crianças com leite materno seguidas por aquelas com leite misto e outro leite;
- Nota-se uma tendência ascendente na freqüência da anemia a partir da categoria com leite materno para a categoria com outro leite;
- É necessário destacar que é muito difícil o estabelecimento de valores críticos de hemoglobina como ponto de corte de normalidade entre crianças menores de 6 meses de vida, dadas as rápidas mudanças de concentração desse indicador bioquímico. 
- Na população deste estudo foi registrado, nessa idade, o valor médio de 10,8g/dL.
- Os problemas decorrentes da desnutrição na gestação e aqueles decorrentes da introdução precoce de leite não materno e/ou inadequada quanto a alimentos sólidos devem ser explicados à mãe assim como deve-se ressaltar a importância do aleitamento materno no primeiro ano de vida orientando, ao mesmo tempo, sobre a introdução correta dos alimentos complementares. 

Comentários

  1. Ei! Estou confusa! Confesso que é a falta de tempo para analisar o texto que está bem técnico, na minha opinião. Poderia ser mais objetiva? Afinal, lactentes´precisam ou não de suplementação de ferro? E como proporcionar uma alimentação e principalmente, a forma de oferecer os alimentos promovendo uma maior absorção de ferro? Os pediatras divergem na indicação ou não da suplementação. Não há (não encontrei) estudos esclarecedores sobre o assunto. Por exemplo, amamentar após as refeições prejudica a absorção de ferro? Desculpe a sabatina, é que confio nas suas pesquisas!

    Beijos!

    Flávia Campos, da Maria Luisa, quase 9 meses

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